Quando era miúda e ouvia falar em freelancer, achava que era algum tipo de posição de jogador de basebol ou coisa que o valha. Os anos passaram, Andreia cresceu, o seu léxico também e, por oposição, a sapiência desportiva ficou lá no mesmo sítio, atirada para um piso -3 do seu complexo cérebro. Bom, adiante.
No meu grupo de amigos, conheço apenas três que foram, ou são, trabalhadores independentes. Apenas uma o é "verdadeiramente". Poderia criar todo um post sobre os falsos recibos verdes desta vida mas, por agora, não vamos por aí. A questão é que sempre associei o trabalho independente a algo de solitário, sempre visualizei essa malta corajosa vestida num pijama, enfiadinha em casa todo o santo dia, a simular diálogos entre o garfo e a faca nos incontáveis almoços a solo... Felizmente, alguém nos States lembrou-se de criar o conceito de coworking, disponibilizando o aluguer de um posto de trabalho lado a lado, ou frente a frente, com outros camaradas freelancers.
Além deste conceito disponibilizar companhia - mais que não seja para uma pessoa descansar a vista do PC, trocar umas ideias e tal e tal - e todas as funcionalidades essenciais (cafeína, água, internet, telefone, a bela da copa equipada, etc.), oferece algo de valor incalculável: sinergias, networking, esse bem tão necessário e incontornável nos nossos dias. O João é profissional de comunicação e relações públicas e o Pedro até faz coisas giras em web. O João tem um cliente e acha que ele devia apostar num novo site...mas o João só poderá garantir produção e edição de conteúdos. Ao almoço, na copa, dois dedos de conversa e o Pedro concorda em fazer o site e, em troca, o João negoceia uns trabalhos nos media, utilizando o interlocutor Pedro para falar da técnica xpto que usou no projecto w. Claro que este é só um exemplo e sinergias destas também se conseguem de pijama ou, porque não, de babydoll em casa, bastando "apenas" ter a sorte de ter um amigo com as skills procuradas ou uma boa base de dados para começar a contactar empresas que aceitem permutas. E, para isto, certamente, precisamos de (mais) tempo.
Existem já algumas opções de coworking em Lisboa, é certo, mas tenho que destacar aquela que foi a pioneira e aquela que conheço efectivamente: o CoworkLisboa, localizado em pleno pulmão criativo da capital, a LxFactory. Não estou a mentir se disser que a zona, toda ela, é rica em "copys" apelativos, "layers" que apetece desmontar e levar para casa, imagens "high resolution" de qualidade upa upa. Mas não vou falar dos criativos que para aqui andam que isso agora não interessa nada!
O CoworkLisboa é aquele sítio em que apetece estar: boas instalações, óptimo ambiente, luz natural, bela vista (calma lá que agora estou a falar do rio, ponte e prédios de Alcântara!) e uma panóplia de áreas de actividade personificadas por malta que pulsa criatividade e boa disposição. Ele há designers, programadores, tradutores, agentes de castings, promotores musicais, marketeers, guerrilheiros, estafetas de bicla and so on. Além de mesas, agrupadas em ilhas, existem também os micro-estúdios, pensados para pequenas empresas, e localizados numa sala à parte do grande open-space onde, diariamente, os vários coworkers fazem magia, essencialmente, em ambiente Mac. Anexa ao espaço, existe ainda a cafetaria Quarto com Vista, onde é possível comer refeições saudáveis e muito em conta. Em Agosto, há ainda sushi (do bom que eu já provei) garantido!
Abençoado o dia em que Fernando Mendes e Ana Dias pensaram em materializar o conceito de trabalho partilhado num espaço tão bem conseguido que, ainda por cima, está perfeitamente alinhado com o pensamento que, todos os dias, cumprimenta quem entra na fábrica de Alcântara.