Faz hoje 6 meses que coloquei o meu aparelho dentário. As diferenças são assustadoramente positivas. Por norma, sou optimista. A verdade é que nunca, na melhor das hipóteses, pensei que em meio ano fosse possível ter esta mudança.
Mas vamos a um breve enquadramento: há 6 meses, eu tinha 30 anos, um diastema [espaço entre dentes] gigante e um desfasamento considerável [agora mais suavizado] entre maxilar e mandíbula. Ou seja, um misto de Seal e Mr. Burns dos Simpsons. Estão a ver?
Pela frente, à partida, tenho 12 meses de tratamento, uma possível cirurgia maxilofacial e aparelhos de contenção [colocados atrás dos dentes] para a vida. Os dentes têm memória e, por isso, se não houver contenção, voltamos ao Seal Burns. Não queremos isso.
Ora, e agora, perguntam-se “porque raios esperaste 30 anos para botar um aparelho dentário se essa esquelética já vinha no teu ADN filhinha?”. O tratamento é caro, não é pêra doce, vários médicos rejeitaram o meu caso sem sequer fazerem um estudo aprofundado, outros afirmavam que a operação era obrigatória. A par disso, em adolescente, a ideia de usar aparelho era mais assustadora do que continuar a ser gozada como habitualmente na escola.
Sim, há 20 anos não era cool usar aparelho. Muito menos óculos. Aos 15, diagnosticaram-me miopia. A somar ao insucesso que já tinha no recreio, a rede social de então, um par de lunetas na tromba aumentou o número de pokes. Vamos lá deixar a história do aparelho de lado.
Com o passar dos anos, decidi que havia de viver bem com a aparência dos meus dentes, com a “diferença” que me fazia destacar dos demais. E assim vivi até ao dia em que o meu dentista me explicou quais seriam as consequências de não resolver esta questão: poderia começar a perder dentes saudáveis, por falta de apoio estrutural.
E assim, aos 30 anos, assumi a miopia com uns óculos XL [durante muito tempo usei lentes de contacto, de forma pouco ortodoxa, resultando numa úlcera na córnea] e coloquei o aparelho. Hoje, escrevo este post com o desejo de dar força a alguém que ande hesitante com a ideia.
Sugiro que considerem vários médicos, que oiçam as suas opiniões e abordagens. Trocas de experiência, de amigos e família, são importantes. No entanto, pelo menos para mim, a escolha do médico passou por confiar na minha intuição. É muito importante existir empatia com o médico. Convém que haja facilidade de comunicação e objectividade, sentir que estamos em boas mãos, afinal, mensalmente lá estaremos sentadinhos na cadeira. Estou imensamente feliz com o meu médico, em quem deposito a maior confiança.
Antes da colocação do aparelho, extraí todos os meus sisos e fui submetida a uma pequena cirurgia para remover o freio labial. Não foi fácil, não foi bonito. Mas foi bem feito. Com paciência, medicação e os cuidados certos, ultrapassei essa primeira etapa.
No dia D, após algumas horas de boca aberta e dormente, o aparelho lá estava, seguro por borrachinhas rosa choque. Se é para usar, que seja tcharan. A sensação de ter um corpo estranho na boca [no meu caso, colocou-se logo a maquinaria completa, no maxilar e mandíbula] é isso mesmo, estranha. Andei dois dias com os lábios inchados [perfeito para selfies duck face], tive feridas na mucosa, mal conseguia comer pois parecia que todos os dentes se moviam. Aliás, não parecia, os dentes efectivamente estavam em movimento.
Ao fim de uma semana, a situação melhorou. Aos poucos, já não precisava de processar a comida e já conseguia dar umas dentadas. E assim é todos os meses. Nos dias seguintes à revisão, e ao aperto literal de que somos vítimas, tudo volta à “normalidade”.
Não nego, há momentos em que é doloroso comer uma fatia de pão, há ocasiões em que comer socialmente é uma merda [abortar verduras, abortar!!!], há noites em que acordamos submersos em baba [sim, a produção de saliva aumenta pois existe todo um apêndice no interior da boquinha]. São apenas momentos. À medida que o tempo passa, sinto-me muito mais confortável, mais bonita e mais confiante.
E rio senhores, rio muito e rio alto.
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