30.11.15

Cenas chatas

Há tempos, escrevi um post no qual indiquei que abordaria o tema dos elásticos intra orais no tratamento ortodôntico. A promessa estava quase esquecida, contudo, a minha querida mãe reavivou a memória.

Ontem, ao ver-me pela primeira vez com os elásticos, aquela que me trouxe ao mundo afirmou, sem rodeios, que lhe faz muita impressão olhar para a minha boca.

Normalmente, aos olhos dos pais, somos uns lindões e qualquer coisa nos assenta bem. Aparentemente, a minha mãe não aprecia quando uso borracha. Opiniões.

Após um mês de utilização destes elásticos, posso garantir que está a valer a pena. No entanto, não nego que os primeiros dias foram complicados. Quando saí do consultório, senti que estava tudo controlado. Uma pequena pressão, perfeitamente suportável. Na primeira interacção com um ser humano, percebi que a coisa não estava a correr assim tão bem. A fonética ficou ligeiramente afectada, no sentido Lisboa - Cascais, está a ver? Na primeira noite, as dores tiraram-me o sono.

Falei com algumas amigas que usaram, ou usam, estes espartilhos dentários e percebi que o desconforto era normal e que eu teria de ser persistente. Assim fiz e tenho assumido, sem vergonhas, os meus elásticos.

Tenho sido uma linda menina e só os tiro para comer e lavar os dentes. De dois em dois dias, substituo-os e rezo para não levar com uma fisgada. Ainda só aconteceu umas quinhentas vezes.

Sei que, ao longe, os elásticos poderão ser confundidos com dois fios de baba. Acredito também que, ao perto, não serão a coisa mais atraente de se ver (qualquer dúvida a este respeito ficou esclarecida com o comentário da minha mãe). Felizmente, tenho um bom poder de encaixe.

P.s. Mãe, não gosto do teu corte de cabelo.

publicado por ARA às 22:23
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24.11.15

Lisboa Viva

Depois de alguns anos a trabalhar em horários contrários às massas, volto à rotina "das nove às seis". Ao circular pela cidade, de Mercedes amarelo de alta cilindrada, tenho constatado alguns factos que merecem partilha.

A mochila escolar morreu. É lamentável. As adolescentes já não sabem o que é uma Monte Campo ou, na versão lowcost, uma Monte Carlo. As miúdas já não levam, às costas, o seu mural de dedicatórias escritas a corrector líquido Pelicano. Assistimos, com mágoa, ao reinado do shopper bag, transportado num braço que mais parece um cabide.

Pelo contrário, é com enorme satisfação que verifico que o aparelho dentário está super In. Gosto de saber que sigo as tendências do target juvenil. O mesmo não poderão dizer as muitas senhoras que aderiram a uma espécie de turbante, em Lycra, a lembrar a touca de natação. Tentei encontrar uma explicação plausível para este fenómeno. Sem complexos, assumo o fracasso. E o cabelo, sempre.

Identifiquei um aumento significativo do número de indivíduos que rentabiliza o tempo da viagem para tomar o pequeno almoço. A forma elegante como deglutem o pão de leite misto e bebem, de palhinha, o seu leite com chocolate é inenarrável. Nutro uma imensa admiração por estes sujeitos.

Por último, há uma tendência que é incontornável. Ouvir, alto e bom som, a música que os demais apreciam, nos seus smartphones, é um privilégio. Para quê piratear ou consumir dados quando posso ouvir gratuitamente, e sem interrupções, os últimos hits do David Carreira e do Nelson Freitas? Além de que este serviço tem a decência de permitir a reprodução de várias playlists, em simultâneo, e de ouvir a nossa faixa favorita em loop. Arrisco-me a dizer que, depois da mochila, o Spotify está pela hora da morte.

publicado por ARA às 22:32
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20.11.15

DDTC ou um post para maiores de 30

 

Recentemente, em conversas com amigos e leituras online, percebi que estou muito desactualizada no que toca às tendências do amor e do desamor na rede. 

 

Apenas ouvi falar do Tinder, e apps semelhantes, há um par de dias. Diz que agora também há serviços de subscrição paga com vista ao adultério, o Second Love. Ontem, li que criaram algo chamado The Breakup Shop, um conceito que permite terminar relações delegando a tarefa a terceiros. Hoje, vi uma notícia de que o Facebook irá disponibilizar, brevemente, uma série de ferramentas a quem altera o status para Solteiro. Esses recursos vão possibilitar remover, rápida e facilmente, os vestígios de fotos, posts e tags relacionados à/ao ex.

 

Sem entrar em críticas ou apologias destas aplicações e serviços, a verdade é que são sinais dos tempos. “Plataformas” para o engate e para o engano sempre as houve. Os nomes e o suporte eram outros, contudo, as intenções, boas ou más, já lá estavam. Bailes e Cabarets da Coxa viraram Bares e Discotecas. Mensagens de fumo e gravuras rupestres são, hoje, Facebook e Instagram.

 

Lembro-me bem da primeira vez que navegámos na Web a partir de casa. Eu e o meu acne. Cabo telefónico ligado ao computador, o som indescritível da ligação à Internet (que haveria de ouvir até à exaustão, tal era a dificuldade em ter sucesso), o tic tic dos impulsos. Ah, bons momentos que a Internet proporcionava: o drama da interrupção da linha telefónica e a emoção da chegada da fatura da Portugal Telecom.  

 

Mais tarde, já com a TV Cabo, iniciei-me no universo do mIRC. Havia canais para tudo: para praticar o inglês com pessoal de todo o mundo, para falar das bandas favoritas, para cortar na casaca dos profs, para engatar. Não havia cá triagens, baseadas em foto de perfil ou nos amigos em comum. Quem usava o mIRC era um rebelde a viver no limite. Apenas um nick “identificava” quem teclava. O discurso começava sempre com “Oi”, seguido de “m/f?” e “ddtc?”. Volta e meia, no decorrer de uma conversa inocente, um ficheiro .jpeg era recebido sem pré-aviso ou contextualização. Momentos de horror. Sim, foram várias as pilinhas que vi e, prontamente, enviei para a reciclagem.

 

Falando em conversa, com os preços proibitivos praticados nos tarifários móveis, a malta tinha de inventar estratégias. Então davam-se toques. Apenas e tão somente isso. Toques. Ainda me lembro de me encher de coragem para dar um toque ao rapaz de quem gostava. Recordo-me também de ficar horas à espera da resposta. Que nunca chegou. “Não deve ter saldo”, pensava eu. Totó.

 

A introdução das SMS foi o auge do móvel, a puta da loucura. O limite de caracteres era pequeno, o custo elevado mas a experiência era absolutamente impagável.

 

E, claro, tínhamos o saudoso telefone fixo sem identificador de chamadas. Telefonemas fantasma e brincadeiras com as listas das Páginas Amarelas eram passatempos deliciosos. Quem nunca ligou para um número aleatório, a pedir para falar com a Senhora Vaca ou com o Senhor Porco é, claramente, um ovo podre.

 

E, pronto, agora chega de nostalgias que tenho uma vida. Preciso de actualizar o Facebook.

 

publicado por ARA às 14:21
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18.11.15

As mulheres, essas charlatãs!

 

Há uns dias, o Shark Tank mostrava uma dupla de amigas que criou umas calças hiper modeladoras. Caras como tudo, é um facto, mas muito promissoras. Não há rabo ou coxas deprimidos com aquela indumentária. Um dos tubarões criticava o invento como algo que promove o engano e a desilusão do predador masculino.

 

“Então, imagine-se que uma senhora tem um date e veste aquelas calças. A coisa corre bem e os dois vão para casa. O que sente aquele senhor quando as calças vão ao ar? Decepção!”

 

Os colegas reagiram rapidamente, desvalorizando, e enumerando artificios como o soutien, a coloração de cabelo ou a maquilhagem, armas poderosas de “encenação”. Todas as mulheres usam. Todos os homens sabem da sua existência. Alguns também utilizam. Ninguém se chateia.

 

Eu cá sou fã incondicional de tudo o que nos faça sentir bem. Ponto. Se alguém ficar desiludido, sugiro que compre uma revistinha. Ah, espera. Photoshop. É tramado, sim senhor.

 

Uso maquilhagem religiosamente desde os 22 anos. Todos os dias, depois do creme facial, há todo um ritual: corrector, base, pó. Estes disfarçam a vermelhidão do meu rosto, sintomática da rosácea, uma doença crónica de pele, muito comum em tez clara.

 

E já que é para maquilhar, então adiciona-se um eyeliner, um rímmel e, às vezes, um batom.

 

Metem-se os óculos, já que sem próteses não vejo nada. Havendo tempo, ainda se doma o cabelo com a prancha térmica.

 

Adornam-se as orelhas com uns brincos de pechisbeque. Perfuma-se a pele.

 

Se isso faz de mim uma impostora? Lamentavelmente, não. E só para esclarecer, apenas uso Chanel. Autêntico. 

publicado por ARA às 15:09
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11.11.15

A sério, também lá estavas?!

 

Depois de dois dias enfiada em casa, atarefadíssima com exercício maxilofacial e ginástica passiva de maple sueco,  decidi contrariar a gula e o pijama.

 

Agarrei em mim e fui até à cidade, ver as modas e inalar o cheiro da castanha assada. Vá-se lá saber porquê, decidi descer do Campo de Ourique até ao Terreiro do Paço. A pé. Porque não? Depois de dois dias a enfardar gelados e panquecas, pareceu-me adequado.

 

Pelo meio, uma paragem no Jardim da Estrela. Decidi ir à esplanada mais pequena, embora a grande estivesse praticamente vazia. Enquanto peço o café ao balcão, viro a cabeça e, qual David Attenborough, identifico algo familiar na savana. Merda. Ali estava alguém do passado, acompanhado de bicho fémea.

 

Bebo o café, tipo shot, ao balcão, e cavo daqui para fora? Vou lá cumprimentar e faço o meu melhor sorriso? Bolas, estou a usar os elásticos*! Caramba, sou uma mulher ou um rato? Escolhi o rato. É o meu signo chinês.

 

Sentei-me na esplanada – previsivelmente de costas – bebi o meu café, vi os updates de tudo o que era rede social e ainda li umas páginas de um livro. Sem despir a personagem de “olha-eu-tão-distraída-e-míope”, abandonei a esplanada e segui o meu caminho.

 

Olha filhinho, se estiveres a ler este post, peço desculpa pela indelicadeza. Ambos sabemos que foi melhor assim. Que o date tenha sido bom e que a vidinha te sorria sempre. Sem elásticos, de preferência. No início, dói bastante. Com o tempo, habituas-te e já nem notas.

 

* Nota: abordar o tema dos elásticos intra-orais em futuro post

publicado por ARA às 23:54
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10.11.15

“Pode explicar o que aconteceu aqui pelo meio?”

 

É certinho que esta questão vem à baila em qualquer entrevista de emprego.

 

Licenciei-me em Ciências da Comunicação, estagiei na área da minha especialização, Comunicação Institucional, e, durante cerca de cinco anos, trabalhei na “área”. As experiências seguintes têm sido acumuladas em Assistência ao Cliente, em ambiente de Contact Center. Isto ainda causa muita estranheza às pessoas.

 

Há milhares de licenciados que nunca chegam a trabalhar naquilo para que estudaram. Outros tantos somam meses, anos sem conseguir um emprego. Outros há que enfrentam um despedimento e, por falta de opção, agarram o que aparece, dentro ou fora da “área”. Quem não conhece uma história semelhante? Parece ser a norma, não é?

 

Histórias como a minha, ainda são encaradas como desviantes. “A rapariga estudou Comunicação, arranjou empregos nessa área, demitiu-se e agora anda a atender telefones? Gaita, há aqui qualquer coisa que não bate certo!” Ou o clássico “Porque é que não procura trabalho na área dela? Com estas escolhas, diria que arruinou a carreira”. Amigos, familiares e recrutadores já pensaram algo do género. Já fui questionada e criticada vezes demais.

 

Hoje, não escrevo sobre o que me levou a demitir da última Agência de Comunicação. Fica apenas a resposta que dou quando confrontada com o pecado capital que é renunciar à “área”.  

 

Comunicar ao telefone com Clientes, no âmbito de assuntos de Facturação, Suporte Técnico, ou outra coisa qualquer, é tão ou mais nobre do que contactar Jornalistas, de forma incessante, para ver publicado o último Press Release sobre bolachas digestivas.

 

Ser Assistente em Contact Center é vestir, diariamente, a camisola da empresa que se representa. É ser embaixador de uma marca, com toda a responsabilidade que isso implica. É ter acesso a informação privilegiada e ouvir, em primeira mão, o feedback de quem alimenta a máquina, o ilustre Cliente. E, mais que isso, é responder, comunicar ao Cliente a verdade da marca, em directo, sem draft ou validação. 

 

Nenhum profissional de Relações Públicas, que trabalhe em agência, como foi o meu caso, tem este tipo de inside job. Regra geral, esta pessoa gere uma extensa carteira de clientes e multiplica-se, da melhor forma que sabe e pode, entre audiências variadas. Com pouca ou nenhuma informação partilhada pelo cliente, faz omeletes sem ovos.

 

Redacção de Press Releases baseados em dois parágrafos de email, sendo que um é o que diz “Cumprimentos”. Conseguir que a receita das bolachas dietéticas seja tema de abertura do Jornal da Noite. Pelo meio, evitar trapalhadas como o envio de emails a X com a assinatura B. Deverá enviar com a assinatura A pois gere dois clientes concorrentes e a agência encontrou uma solução peregrina para se contornar a falta de ética. Ah, e a ilegalidade contratual. Confuso? Pois.

 

Quer nos bastidores, enquanto Account, quer nas trincheiras, enquanto Customer Service Representative, tenho trabalhado na “área”, SIM! A área da Comunicação é fascinante por isso mesmo. É multidisciplinar, complexa e traduz-se em varíadissimas formas, senhores!

 

Não tenho nem nunca tive vergonha das minhas escolhas profissionais. O caminho que faço desde que saí da faculdade, há quase 10 anos, enche-me de orgulho. Voltava a tomar as mesmas decisões, a passar pelas mesmas experiências. Boas ou menos boas, todas as experiências ensinaram-me algo. Todas contribuíram para ser uma melhor pessoa e uma melhor profissional. Todas colocaram-me gente e histórias das quais não prescindo.

 

“Pode explicar o que aconteceu aqui pelo meio?”

 

Evolução, meus caros. Evolução.

 

 

publicado por ARA às 00:29
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5.11.15

Vai um balde de água fria

 

Quem é que já trabalhou numa empresa que viria a falir? Quem é que já trabalhou num escritório cuja limpeza era assegurada pelos colaboradores? Casa de banho incluída. Quem já trabalhou numa empresa gerida (inserir risos) por um casal, em que os cônjuges padeciam de depressões nervosas e de soltura intestinal? Eu sim, pois claro.

 

Na época, eu era uma jovem recém licenciada e procurava um estágio profissional. Por intermédio de uma pessoa amiga, tive conhecimento da empresa e o meu perfil agradou o chefe mas pouco lá do sítio.

 

Uma conversa bastante informal foi agilizada para um sábado de manhã, num café. O tipo tinha passado como Comercial, logo, muito savoir faire nas lides das vendas. E eu, lá comprei a ideia de trabalhar naquela empresa familiar. Chegada a conta, qual cavalheiro, o senhor não tinha um tusto. “Que chatice, desculpa lá ó Andreia”.

 

Para se redimir, o sujeito combinou dar-me boleia até ao escritório, naquele que seria o primeiro de muitos dias de forrobodó matrimonial. O ponto de encontro seria o mesmo café da entrevista, às 9h. Uma hora e meia depois, o casal maravilha aparece no seu carro xpto, pago (inserir risos, de novo) a leasing. Nem bom dia a senhora me deu. Educada ela. Um mimo.

 

Não sendo psicóloga, nem zoóloga, bastaram alguns minutos (da viagem mais loooooonga de sempre) para perceber o que para ali ia. Ele, muito bem parecido, no seu género. Ela, uma pequena lontra com cara de carneiro mal morto. Reza a lenda que a senhora teria engordado horrores com a gravidez, nunca tendo recuperado a cintura de vespa. Reza a lenda que uma depressão pós-parto se arrastaria, até então, e que os medicamentos não teriam qualquer efeito adelgaçante.

 

A tipa claramente tinha problemas de auto-estima. Ele não tinha vergonha na cara. Ela gostava de mandar lá no tasco. Ele gostava de decidir coisas sem a consultar. Receita para o sucesso. Rapidamente fui alvo de ciúmes, por parte da primeira, e de insinuações ao melhor género novela mexicana, por parte do segundo. Uma coisa é certa, aqueles dois apenas estragavam uma casa. E cagavam, senhores, se cagavam naquele escritório.

 

Ela era a pessoa das finanças e até trabalhava. Ele fingia muito bem que trabalhava. Chegava ao escritório, removia o portátil da maleta, lenta e cuidadosamente, ia ao café, enviava uns faxes no wc, mandava umas larachas, passeava ao telemóvel, almoçava, cagava, passeava ao telemóvel, desmontava o estaminé. Dia feito. Pelo meio, invariavelmente, amuava e discutia com a senhora.

 

Durante uns tempos, a limpeza do escritório era feita pelas colaboradoras, sob promessa de se vir a contratar uma empresa especializada. A manutenção da casa de banho era a tarefa mais concorrida na casa. Era ver o pessoal à porrada, a ver quem agarrava primeiro a esponja e a lixívia. Not.

 

A empresa de limpezas foi contratada, a equipa aumentou e tudo indicava que o negócio estava a florescer. Reforço da frota automóvel, de alta cilindrada, férias e moradias em zonas muito pobres do nosso país. Contudo, meses depois, a sujidade acumulava e, com ela, um prenúncio de "aí vem merda". Os fornecedores cobravam as suas prestações de serviços, os salários não eram revistos e algumas pessoas começavam a reclamar os seus subsídios em atraso. Mais tarde, saberia-se que o sócio que injectava o dinheiro teria cortado relações com a direcção, fechando a torneirinha. O director ter-se-ia enrolado com outras sujeitas (es-can-da-lei-ra) e o casal teria deixado de o ser. Carros apreendidos, processos na ACT, Tribunal e o diabo a sete. Boa gente que ficou sem trabalho e com muito dinheiro a receber.  

 

Tive a sorte de sair de lá, com trabalho e dignidade, antes do barco afundar. Ficaram boas amizades, experiência. E muitos baldes de água naquela canalização. Minha nossa senhora.

publicado por ARA às 20:55
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4.11.15

Emprego de sonho. Ou então não.

 

Na senda das minhas aventuras profissionais, ou pouco, há uma que contada ninguém acredita. Há que admitir, sem vergonhas ou pruridos, esta é mesmo pouco profissional. Cá vai: em Agosto de 2011, trabalhei 20 dias úteis para receber nada mais, nada menos, do que 12 euros. Verdade. Essa pequena fortuna deu para, imagine-se, aviar uma receita na farmácia. Maravilha.

 

Na época, andava à procura de um novo rumo para a minha vida. Tinha ficado sem trabalho há pouco tempo, mantinha alguns biscates e estava a ajudar uma amiga freelancer. Todos os dias, procurava emprego nos lugares do costume: Net-Empregos, Sapo Empregos, Carga de Trabalhos e, igualmente, nos sites das incontornáveis empresas de outsourcing.

 

Um dia, depois de tantos sem contactos, lá toca o telefone com a marcação de entrevista para essa mesma tarde, num escritório algures na Avenida Almirante Reis. Tinha respondido ao anúncio cinco minutos antes. Achei aquela rapidez deveras refrescante e muito bom indicador. Hoje, sei que a rapidez era apenas desespero e que o indicador era um grande cheiro a esturro.

 

Sem nada a perder, lá fui eu. O anúncio pedia um gestor de clientes para um site de serviços. O projecto seria recente, em expansão. Procuravam alguém com gosto por comunicação e, idealmente, com experiência na área. Pareceu-me adequado.

 

As instalações funcionavam dentro do escritório de uma advogada, que foi quem me recebeu e pediu que aguardasse pelo responsável.  Em parte, confesso que isso até me deixou aliviada. “Não deve haver aqui aldrabice, já que estamos paredes meias com uma profissional do Direito”. Ingénua.

 

A primeira impressão do senhor não foi a melhor. Havia ali qualquer coisa que não me inspirava confiança mas, como sempre, dei o benefício da dúvida. Ao fim de 10 minutos (e talvez esteja a exagerar), estava convencida de que aquele era o meu emprego de sonho e de que aquele homem ia levar-me ao fogo do inferno.

 

O facto de, inicialmente, não haver contrato ou recibos, e do valor do salário ser variável, baseado num esquema manhoso de comissões, era irrelevante. Detalhes.  

 

É claro que isto correu mal. O conceito do projecto até era engraçado. Contudo, suspeito que os mentores da coisa só frequentaram o curso de Empreendedorismo até ao tema “Parir uma ideia”, que é como quem diz, foram apenas à aula de apresentação. Mas isso não me importava. Tinha conhecido o tipo mais atraente, manipulador e sedutor de todos os tempos. E estava completamente apaixonada. Não dormia, não comia, tremia, suava em bica. Tristeza.

 

Nunca me foi tão fácil ir trabalhar como naquele mês de Agosto. Eu chegava, fazia um ou dois telefonemas, o tipo vinha para o meu lado conversar. Falava da ex-mulher, dos filhos, dos interesses, dos restaurantes da moda, de música, de horóscopo e tarot, de tatuagens. O tipo era Doutorado em Clichés para Engatar Miúdas, o que, lá está, compensava a pouca frequência no curso de Empreendedorismo. Na vida, há que estabelecer prioridades.

 

Depois começaram os convites, rapidamente retirados. Primeiro para um passeio de mota, depois uma ida à praia e, finalmente, um jantar. E, assim, o tipo atirava-me corda para me manter ali mais uns tempos. Eu continuava a procurar trabalho e já tinha definido manter-me ali até e apenas ao final do mês. Mas queria ver até onde esticava a corda.

 

Perto do deadline, uma cena de ciúmes, protagonizada pela advogada (a dona do escritório, lembram-se?), fez cair a máscara. Aproveitando a ausência do tipo, a senhora entra na sala onde eu trabalhava (coisa que nunca tinha feito) e diz-me que tem ouvido coisas muito boas a meu respeito. Menciona que, ainda na véspera, enquanto jantava com o seu namorado num sítio da moda, ela comentava que eu deveria aproveitar as minhas capacidades e procurar outro emprego, bem longe dali. 

 

E, de repente, tudo fez sentido. A namorada emprestava parte do escritório, cost free, para o negócio (pouco) efervescente. Na ausência dela, o namorado passava os dias a fingir que trabalhava, enquanto seduzia a sua colaboradora. E assim se divertiam.

 

Nesse mesmo dia, fui embora. Eu, 12 euros e um coração partido.

 

Nota: a parte boa da história é que, nesse mês, emagreci quatro quilos. Estoicamente, conseguir enfiar-me no vestido que levaria ao casamento de uma amiga. Obrigada cretino!

publicado por ARA às 15:49
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3.11.15

É com recibo, faz favor!

 

Tenho para mim que as pessoas que desactivam os recibos de leitura no WhatsApp (vulgo, os dois traços azuis), não são de confiança.

 

Então, os senhores criam um mecanismo para nos mostrar quando estamos a ser ignorados e há pessoas que proactivamente, repito proactivamente, vão aos settings e removem a opção?

 

Pior, essas pessoas são avisadas de que ao desactivarem perdem também a visibilidade da leitura das mensagens que enviam. E face a isto, vão e desactivam o recibo?

 

Que estirpe de pessoas é esta que não quer saber, nem que se saiba, quando as mensagens são lidas e ignoradas, hein?!

 

O mundo está perdido.

publicado por ARA às 21:52
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2.11.15

Das doenças dos tempos modernos

 

“Porque é que não acabas com isto?”

 

Ela devia ter razão. Afinal, ali estava eu, escondida dos meus colegas, na casa de banho, com a cara esborratada de rímmel e uma disfunção mental digna de internamento. Tinha chegado ao meu limite. Na segunda-feira seguinte, pedi a minha demissão. Não tinha outro emprego assegurado nem a menor ideia do que ia fazer. Sabia que não estava a fugir mas sim a tentar proteger o que restava da minha pessoa.

 

Dias depois, comecei a sentir grandes melhoras nos sintomas da doença que me tinha sido diagnosticada meses antes. Síndrome do Cólon Irritável. Vamos simplificar para SCI que “cólon” já por si é mau, quanto mais irritado.

 

“Fofinha, isso é tudo psicológico. Você precisa relaxar, encontrar escapes para o estresse do dia-a-dia, ter mais tempo pra você”, disse-me a Doutora (não torças o nariz pequeno grammar nazi, a senhora é brasileira).

 

O diagnóstico do SCI baseou-se em várias análises ao sangue, raio x, endoscopia e colonoscopia. Sim, tiveram que me enfiar um tubo rabo acima para assegurar que o meu problema era mental.

 

Inicialmente, achei que o meu metabolismo estava com uma crise de personalidade. Tudo o que entrava, saia rapidamente. “Deve ser dos cereais integrais”, pensava. Depois, achei que era celíaca ou intolerante à lactose. Durante um mês, cortei no glúten e em tudo o que pudesse ter qualquer vestígio de leite. No final de contas, e depois de gastar pequenas fortunas nos alimentos de substituição, percebi que não era nada daquilo.

 

“Isso tudo é sistema nervoso”, dizia a minha mãe enquanto eu continuava em modo negação. Cagar de meia em meia hora não tinha nada de psicológico. Tinha cheiro e era real. Se a isso somarmos os exercícios contorcionistas da tripa, a banda sonora e a barriga de nove meses ao final do dia…pois, não podia ser psicológico. Mas era. Os vários exames assim o comprovaram e eu, finalmente, aceitei que esta doença era sinal de alerta de um mal muito maior.

 

Esta história já tem alguns anos. Recupero-a para lembrar que nenhum emprego vale a nossa saúde. É certo que a demissão, no meu caso, foi um desfecho extremado, vá. Mas foi o caminho certo para mim, na época, do qual não me arrependo.

 

O importante, acima de tudo, é agir aquando dos primeiros sintomas, seja um distúrbio gastrointestinal, privação de sono, falta de concentração, entre outros. Se o emprego está a afectar aspectos da nossa integridade física e psíquica, é altura de olhar friamente para a situação e actuar. Nem sempre é fácil reconhecer o mal e, mais difícil ainda, pedir ajuda. 

 

Apesar das voltas que a minha vida tem dado, felizmente, posso dizer que o SCI está controlado. Não tomo qualquer medicação e voltei a consumir lacticínios sem qualquer problema. No entanto, estou consciente de que, a qualquer momento, algo, ou alguém, pode despertar a fúria do bicho.

 

Por isso, é tentar viver um dia de cada vez. E ter muita, muita calma. 

 

publicado por ARA às 12:18
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Job for the girl - Update

No dia seguinte à publicação do post Job for the girl, recebi um telefonema a cancelar a minha admissão em nova aventura profissional. 

 

"A empresa perdeu um cliente muito importante, daí a necessidade de diminuir o número de posições em aberto. Decidiram cancelar a sua admissão Andreia". 

 

Lição a reter: evitar partilhar boas novas laborais enquanto o contrato não estiver assinado.

 

Esse dia foi cinzento, não nego. No entanto, a vida continua. Em jeito de mantra, repito para mim mesma: "não tinha de ser e algo melhor espera por mim".

 

The girl will keep on trying. 

 

 

 

publicado por ARA às 12:06
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