A alegria chateia muita gente. É um facto. Em quase todos os locais de trabalho onde passei, confundiu-se alegria com desleixo ou provocação. Num dos primeiros empregos, chegou mesmo a confundir-se descontracção e sentido de humor com assédio.
Toda a gente tem problemas. De saúde, amor, dinheiro. Toda a gente tem dias de merda. Há os dias em que se pisa ou se é atingido por cocó. Há os dias de mau cabelo e outros da borbulha na ponta do nariz. Há os dias das más notícias, da dor de cabeça ou do desarranjo intestinal. Contudo, o local de trabalho não é nem deve ser, a meu ver, recipiente das amarguras desta vida. Para má cara, já basta a que vejo diariamente antes de botar a maquilhagem.
Um bom ambiente de trabalho tem, para mim, um peso incalculável. É fundamental poder dizer umas piadas e não ser confundida com um verme negligente ou com uma trabalhadora do sexo.
Será que é assim tão difícil às chefias - reais e pseudo - aceitar que se pode ser produtivo, profissional e eficiente enquanto se dizem umas caralhadas e se ri até faltar o ar? Pasmem-se, mas é possível. Sim, eu escrevi caralhadas.
Felizmente, tenho a sorte de trabalhar com alguns indivíduos de igual pedigree. Desconfio que a minha alegria no trabalho incomode alguns membros da brigada do reumático. Suspeito que não farei absolutamente nada para mudar isso.
Volta e meia, tenhamos 15, 20 ou 30 anos, há uma questão que nos angustia: "será que também está interessado/a?". Em 2011, escrevi sobre este assunto, aqui mesmo. Há uns meses, apanhei o filme num qualquer canal de TV e, previsivelmente, papei-o.
Nos anos que separam a publicação destes dois posts, debati-me com a questão do interesse algumas vezes. Mais do que gostaria, é um facto, contudo, as vezes necessárias para chegar a uma resposta sensata.
Dizem as publicações especializadas, como a Maria, Mariana ou qualquer outra com nome de senhora, que o interesse pode ser identificado nos seguintes check points:
- quem manda mais mensagens;
- quem usa mais emoticons;
- quem envia o primeiro sinal de vida do dia;
- quem faz mais convites;
- quem tem a pupila mais dilatada;
- quem tem mais necessidade de toque;
- quem se vomita mais, dos nervos;
- quem dá as boas noites e os bons sonhos mais melosos.
Se o alvo de interesse ganhar a corrida, temos romance certinho. Se formos nós a somar mais pontos, estamos condenados à friendzone. Se a coisa estiver equilibrada, pode ser que tenhamos sorte.
Tretas.
Se existir correspondência, não é preciso criar folhas de Excel, com fórmulas e macros elaboradas para quantificar interesses. A questão nem se coloca.
Apenas e tão somente isso.
Retomando o tema Tinder, ficam algumas considerações da pouca utilização que tenho dado à coisa:
#1. O horror que é encontrar antigos e actuais colegas de trabalho, a quem rapidamente se quer fazer um swipe left, que é, como quem diz, reject / dislike / cruzes credo.
#2. As mensagens que recebi, até ao momento, foram algo como: "oi, queres ir fazer o amor gostoso?" (estou a ser demasiado poética, perdão).
#3. A surpresa de ver criaturas do passado, as quais não são avistadas há, pelo menos, 2000 anos. Saber que estão obesas e envelhecidas quase que me puxa a lágrima. Só que não.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.