Já tinha referido, aqui no blog, que me tinha inscrito no Tinder. Saí, reingressei e voltei a abandonar a coisa. Entretanto, há meia dúzia de dias, aderi ao Happn.
Alguns amigos são entusiastas destas applicações. Há quem utilize todas as apps em simultâneo, há quem troque screenshots das pérolas encontradas, temos os demais que fazem like em todos os perfis para contabilizar matches, ainda há outros que se desafiam entre si para sacar um jantar ou uma sobre-a-mesa e gritar "primeiros!!!!".
Tenho amigos a quem as apps não aquecem nem arrefecem. Esses questionam-me porque ando a experimentá-las. Tenho 31 anos, a caminho dos 32. Sou solteira e um bicho social. Passo nove horas no local de trabalho, onde tenho um óptimo ambiente de camaradagem, algumas amizades, até, sortuda que sou. Não faço questão de elevar as relações que mantenho com os meus colegas, embora não critique quem o faça. Shit happens. Já não ando na escola, onde havia sempre margem para aquela crush fortíssima da hora do recreio. Os amigos estão quase todos casados e garantidos na continuidade da espécie. Os amigos dos amigos, por norma, também preenchem estes requisitos. As apps são apenas mais uma oportunidade para conhecer gente. Gente parva, como na vida real, gente com potencial, gente chatinha. Gente. São mais um canal para ter desilusões e surpresas. Como na vida real.
"Mas que jeito tem andar a ver as fotos do gado, como se de um catálogo se tratasse?". Meus amigos, lembram-se quando eram solteiros e seguiam para as ladies nights do Plateau? Recordam-se quando abordavam uma moça que jazia caída, triste e abandonada, no bar aberto? O que sabiam dela? Conheciam o seu livro de cabeceira, a média da universidade, as alergias alimentares, o historial psiquiátrico? Pois, bem me parecia.
Ainda há os outros, colegas e conhecidos, que criticam ferozmente as apps ou que, por outro lado, se abstêm de qualquer comentário. Depois, é ver as suas fotos de sunga e boquinha de pato.
Apesar de defender que estas apps valem o que valem - ferramentas válidas para conhecer pessoas - também acredito que há quem as utilize com alguma leviandade e frieza. Sei que uma conversa é isso mesmo, uma conversa. Sei que quem lá anda pode ter um perfil muito bem fabricado e, até mesmo, ficcional. Sei que há de haver tarados, casados, mal amados e frustrados. Sei que nem todos terão as mesmas intenções, motivações e vontades. Contudo, quem lá anda deveria assumir mais a coisa e responsabilizar-se pela expectativa que, forçosamente, cria no outro. Num mundo ideal, dizem-me. Mas o blog é meu e posso dizer o que penso. Não é pedir muito que as pessoas abram o jogo. Quer sexo, diga logo. Quer fazer amizade e, quicá, arranjar namorico, diga logo. Quer conversas random enquanto está na loja do cidadão, diga logo. Quer massajar o ego e provar que, se a relação der para o torto, tem backup rápido, diga logo.
Estas apps são muito giras mas envolvem as intenções de uma grande frieza, vulgo, "estou-me a cagar para as tuas expectativas, minha menina". Senão, vejamos. Temos as criaturas com quem há match e permanecem em silêncio, ad eternum. Temos aqueles que metem conversa sensaborona, pouco inteligente, numa preguicite e desinvestimento medonhos. Temos aqueles que iniciam um diálogo, somam check marks a cada duas linhas (quase que se ouve o som da apanha dos cogumelos do Super Mário), e, depois, do nada, desaparecem.
Estes últimos são os mais perigosos pois, às páginas tantas, fazem questionar se dissemos algo menos próprio ou, quiçá, se passámos uma imagem de stalker. Teremos transmitido desinteresse e indisponibilidade? A pessoa pergunta-se se terá sido bug da app, se o homem terá sido assaltado, ficado sem smartphone, se terá falecido. A pessoa é obrigada a procurar o ser humano no Instagram, no Facebook, Twitter e Páginas Amarelas. É obrigada a enviar pedidos de amizade, mensagens, forçada a contratar um detective e, talvez, um sniper na deep web. Caramba, não há tempo para isto.
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