30.8.16

A Guerra dos Tronos

Advertência: este post contém linguagem e temática capazes de impressionar os mais susceptíveis. Vamos lá falar de casas de banho.

 

Sem rodeios, revelo que os WCs da minha empresa são uma merda. Quem trabalha em call center sabe bem dar o valor a uma casa de banho. Durante e entre chamadas, são muitas as vezes que temos que dizer ao xixi para aguentar e não chorar. Melhor do que o prazer do Mute, e das caralhadas que o mesmo permite, só mesmo aquela ida ao WC, quando a pessoa respira, urina e, eventualmente, hiperventila para dentro de um saco de papel.

 

Ora, a pior coisa que pode acontecer, no caminho glorioso para a sala dos tronos, é chegar e haver fila. É chegar e não haver papel. É chegar e perceber que quem ocupa a sanita está, na verdade, a jogar Puzzle Bubble, a actualizar o Facebook ou a conversar no WhatsApp. É chegar e ver que a freguesa anterior devia ser a Carrie. Não a do Sexo e a Cidade, antes fosse, mas a menina que vazava sangue. Terror, certo?

 

Faz-me muita confusão perceber como as mulheres podem ser tão porcas e profanar locais que deveriam ser santuários da paz higiénica. Para essas mulheres, uma sugestão: Tena Lady. Vamos lá deixar o trono a quem merece. 

 

 

publicado por ARA às 18:51
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18.8.16

A menina escreve?

Há dias, tive de preencher um formulário à mão e deparei-me com uma triste realidade: já não sei escrever. A dificuldade com que pari meia dúzia de palavras e assinei o meu nome é vergonhosa. Estaremos demasiado formatados para o smartphone, tablet e computador? Estará a caneta, efectivamente, a extinguir-se? Ou seremos apenas uns calões comodistas?

 

Sempre adorei escrever. Em miúda, era raro o dia em que não chegava a casa com a mão cagada de tinta ou grafite. Sou canhota e, como tal, além de redigir, puxava lustro às composições com a lateral da mão, estranha e confortavelmente repousada no caderno pautado, argolado à esquerda, claro.

 

Sentada no inevitável lado esquerdo da secretária, para não haver cotoveladas desnecessárias, ali estava a menina que escrevia, escrevia, escrevia. Na faculdade, lá estava a menina, toda torta, na cadeira de pala montada para destros. Folhas de teste a sair que nem pãezinhos quentes para a menina que escrevia como se não houvesse amanhã.

 

A puta de uma declaração, com não mais do que cinquenta caracteres de preenchimento, foi mais difícil de concluir do que a corrida de São Silvestre.

 

Este post foi escrito originalmente num pequeno moleskine, de capa cor de rosa, bem paneleira, enquanto aguardava pelo dentista. Não é o post mais emocionante do mundo mas, pelo menos, é fruto de um esforço sincero de contrariedade à invalidez que tentou chegar às minhas mãos. Borrão de tinta na mão esquerda: orgulhosamente conseguido. Tau.

publicado por ARA às 00:30
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2.8.16

Welcome aboard.

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Sou natural do Barreiro, onde vivi até há quatro anos, com algumas incursões, de curta duração, por Lisboa, cidade onde me encontro a residir. Desde pequenina, sou fascinada pela capital. Ambicionava viver deste lado, imaginava como seria a minha casa, as minhas rotinas, a minha individualidade, deste lado. 

 

O símbolo dessas memórias é, incontornavelmente, o rio Tejo. Era ele que me separava do sonho. Ir passear a Lisboa, quando tinha os meus quatro, cinco anos, e os meus pais não tinham carro, era todo um acontecimento. Fazer a travessia no Tejo tinha uma magia e um prazer indescritíveis. Desde a compra dos bilhetes, ainda de cartão duro, à validação do revisor, passando pelas características das embarcações, tudo aquilo era vivido com muita excitação. 

 

Com o passar dos anos, a estudar e, depois, a trabalhar em Lisboa, comecei a experienciar uma vivência algo diferente com o rio. Pese embora apreciasse a viagem, comecei a sentir o desgaste da vida diária dos transportes públicos. Ora senão vejamos. Há 14 anos, quando comecei a estudar em Lisboa, a travessia ainda demorava 30 minutos. Em dias de Inverno, era frequente chegar ao terminal fluvial e não ter como transpor o rio. Ventos fortes e nevoeiros suprimiam as ligações. Hoje em dia, somem-se as greves. O Terreiro do Paço não tinha estação de metro. Enfim, o barreirense quase que fazia (e faz) o triatlo para chegar atempadamente aos seus compromissos.

 

Apesar de tudo, há dias em que sinto saudades dessas viagens. Saudades dos barcos que tinham cave, terraço e nomes de cidades portuguesas. Dormi muitas meias horas naquelas caves, de bancos corridos de madeira envernizada. Esse era o spot preferido de quem queria fechar os olhos antes de mais uma jornada. Saudades do terraço nas tardes de Verão, do cheiro a maresia, do som das gaivotas iradas. De um inevitável presente dos céus. Fazia parte do pack "A Vida é Bela, powered by Soflusa". Saudades de caminhar para a estação e adivinhar qual seria o nome do barco que iria apanhar. Um dia, bem invernoso, entrei no Faro com a minha mãe. Íamos comprar a árvore de natal ao Colombo, essa meca do consumo. Chegámos a Lisboa duas horas depois, após termos ficado encalhadas num banco de areia que a tripulação não viu. Oops. 

 

Havia emoção nestas viagens, havia um certo mistério associado. "Será que vou ter barco? Será que chego viva? Será que adormeço, no embalo das ondas, voltando à estação de embarque, num loop Barreiro-Lisboa?" 

 

A introdução dos catamarãs mudou um pouco esta experiência. A viagem ficou reduzida para metade do tempo. Caso estejamos em hora de ponta, naturalmente. Nas horas mortas, e como o combustível está caro, estendemos a coisa até aos 20, 25 minutos. Mataram os espaços outdoor, garantindo que o indivíduo chega a Lisboa sem odor a tabaco e sem dejetos de aves na indumentária. Já não há cave nem bancos de madeira.

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No entanto, há elementos que, hoje, ainda se mantêm, deixando-me orgulhosa da tradição marítima que as gentes do Barreiro carregam consigo.

 

Continuamos a ter as senhoras que rentabilizam o tempo da viagem para se maquilhar. Continuamos a ter o cheiro do verniz barato (houvessem mais tomadas eléctricas e teríamos forninhos de unha gel a cada dois lugares). Continuamos a ouvir a melodia do corta unhas. Sempre cheia de classe e requinte. Ao fundo, no bar, temos a canção, frenética, da bica a sair. O senhor do cabelo oleoso e da camisa fedorenta continua a frequentar o barco das 6h25, proporcionando aquela frescura da manhã aos demais utentes. Continuamos a ter que pedir por favor, enquanto vertemos uma lágrima, para ocupar aquele lugar que está entre duas senhoras cheias de vontade de deslocar os glúteos.

 

E, porque o barco é do povo, continuamos a acompanhar as vidas dos barreirenses, tão bem e tão alto comentadas.

 

Como não ter saudades disto?

 

publicado por ARA às 11:35
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