Recentemente, estive de férias em Tavira e conheci a fantástica praia do Barril. Talvez por ser Setembro, talvez por ser uma praia de acessibilidade mais condicionada, o areal estava bastante tranquilo. A longa caminhada compensava a paz e tranquilidade encontradas naquelas paragens.
Não havendo bela sem senão, no último dia de praia, não só o areal estava arejado como também as muitas pilinhas e pipis por ali avistados. Atenção, não tenho nada contra o naturismo e o topless. Cada um bronzeia o corpinho como deseja. No entanto, é chato ter um pervertido no guarda sol do lado. Qual Zezé Camarinha versão 8.0., esta criatura, nos seus cinquentas, passou todo o santo dia a galar senhoras enquanto massajava o ego inferior. Certo, enquanto puxava lustro à sua ridícula lamparina.
Não contente com a rejeição geral, o génio resolvia olhar para mim e para os meus amigos, intercalando as actividades de suricata com idas ao mar e visitas às dunas que são como divãs. Seria caso de polícia não fosse a canção dos GNR.
Numa das breves pausas deste filme pornográfico, de categoria vão de escada, caí naquele soninho bom de sombra, ao som das ondas. Ao despertar, fui agraciada com o sorriso vertical de uma senhora que resolveu assentar arraiais a uma distância muito pouco higiénica. Com a donzela, o regresso inevitável do tarado e a certeza do seu insucesso.
Senhor, faça um favor a si mesmo e reveja o seu plano de acção. Você não é atraente e sua abordagem náo é fixe, apenas nojenta. Ninguém lhe vai dar bola, muito menos pipi. Curta o Barril e deixe a fauna em paz! Obrigada.
As grandes mudanças acontecem no seu tempo. Acontecem quando, efectivamente, estamos prontos para as receber. Hoje, isso é claro para mim.
Há precisamente um ano, pensava estar a fechar um ciclo. Desamor, desânimo, desespero. Procurei caminhos novos, respostas, procurei mudança. Quando dei por mim, estava de regresso ao ponto de partida. Tentei fugir de uma empresa, à qual acabei por voltar. Tentei fugir a um tipo de trabalho, ao qual acabaria por regressar. Tentei fugir de mim, a mim voltei.
No decorrer destes 12 meses, terminei uma relação, com algumas recaídas. Saí de casa, desfiz-me de vários bens materiais, aluguei um quarto. Apaixonei-me e conheci a desilusão. Viajei sozinha pela primeira vez, recuperei e cimentei amizades. Reconciliei-me com o passado, resgatei rotinas, lugares e vontades. Perdoei-me. Apaixonei-me. Por mim.
Hoje, tenho menos medo. Sou mais segura, mais descontraída. Percebo o poder das minhas palavras, o alcance dos meus gestos. Percebo como sou querida por muitos, desejada por alguns. Invisto e recebo em igual medida. O medo de fracassar ou de desiludir já não me impedem de tentar. Sou grata pelas minhas pessoas. Seguramente que irei falhar e desapontar. Decerto que terei as minhas quedas. Contudo, vivo em paz com as minhas limitações e vulnerabilidades.
Hoje, encerro o ciclo do desamor, desânimo e desespero. Hoje, recebo a mudança com a certeza de que bons ventos conspiram a meu favor. Hoje, apaixono-me.
E permito-me.
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