Quem me conhece, sabe como a coisa funciona. Colar autocolantes ou redigir uma carta ao Papa são tarefas que merecem a minha igual consideração, rigor e perfeccionismo. Se tiver que lavar pratos, vender óculos graduados a cegos, atender telefones ou passear o meu corpinho, farei cada coisa com a mesma determinação e profissionalismo. Mas quem não me conhece, vê apenas mais uma cara ("como é o nome mesmo?") e uma folha de papel com o resumo da experiência profissional. Vê um apelido diferente e saem-se logo com a brilhante tirada "é de Aljustrel?!". Não foférrimas. Esse é o meu último nome. Se morasse em Aljustrel, estaria dedicada à agricultura biológica ou a qualquer outra porra biológica e, certamente, não estaria a perder tempo convosco. Pois bem. Se estamos em contexto call center, eu não tenho experiência e não sou considerada. Mesmo depois de explicar que grande parte do que tenho feito nestes últimos anos passa, precisamente, por muito contacto e abordagens diversas em...tcharan...telefone, a coisa não cola. Se estamos numa loja, é porque só trabalhei uns meses ao balcão e há muitos anos. E porque estou habituada a estar "sentadinha durante 8 horas". Pois fiquem sabendo que estava sentadinha muitas mais e que até preferia estar de pé ou a correr que nem uma louca atrás das madames, perguntando insistentemente se necessitam de algo. Ok. Minha gente empregadora, isto é muito simples. Eu preciso de ganhar algum. Quero trabalhar no que for. Tenho cérebro, dois braços, duas mãos e duas pernas bastante fofas para aguentar com o que for. Exijo uma oportunidade. E isso é pedir pouco. Tão pouco como a remuneração oferecida com ar de quem está a dar as melhores condições do mundo. Entre o pouco e o nada, eu escolho pouco. E, please, Aljustrel é escrito com a porra de um "j".
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