Advertência: quem estiver farto de ler posts, notícias, desabafos sobre as dificuldades em encontrar emprego, queixas e lamúrias do estado actual das coisas...feche esta janela, por favor, utilizando a cruz no canto superior direito. Quem até simpatizar com os temas, então leia e solidarize-se, ou não, com a minha profunda indignação com alguns exemplares dessa raça chamada "homem português com a mania que é campeão de corrida".
No meu part-time, há um tipo insuportável que está sempre a fazer perguntinhas chatas - só para mostrar (falso) interesse nos procedimentos - e a aproveitar os poucos momentos em que a coordenadora abandona a sala para se queixar das condições, do salário, da abordagem, do horário, da água e até da merda do café. A juntar a isto, tem todo aquele discurso da galinha da vizinha ser melhor que a minha. Passo a explicar. Parece que Sua Excelência tem outro part-time, diurno, num sítio com condições maravilhosas, remuneração atractiva, funções motivantes, água Evian e Nespresso a dar com pau (ok, a água e café são apenas para dramatizar isto). Como se não bastasse, fisicamente faz-me lembrar um tipo que podia ser muito bem o motivo da minha participação voluntária em ensaios experimentais de indução de amnésia selectiva (se algum médico/investigador ler isto e quiser ajudar...está à vontadinha).
Pois bem. Se o part-time é uma grandessíssima merda...então...porque está ali? (precisa do dinheiro, Andreia, precisa do dinheiro) Eu penso em todas estas coisas quando o oiço, faço um esforço para ignorar o que diz. Mais um esforço. Mas não consigo. Porque depois, no final do dia, lá vai ele - sempre o último a dirigir-se à mesa para entregar as folhas com o trabalho feito - todo armado em carapau fresco com as perguntas estúpidas que tão sabiamente sabe fazer. E engraxa a senhora. Demonstra, again, o tal (falso) interesse no trabalho que está a fazer, demonstra a revolta sentida quando as pessoas, do outro lado da linha, não colaboram e - 'tadinho - lhe desligam o telefone na cara.
E como se a fotografia não fosse para lá de péssima, hoje então os meus olhos reviraram-se. Uma e outra vez. Foi a machadada final. Lá tivemos que partilhar o elevador para a subida. "Olá, então tudo bem?" (estaria bem melhor se não estivesse a dois palmos da tua cara palerma). "Mais um dia desta merda, não é? Eu hoje vou falar com a coordenadora e pedir para amanhã sair uma hora mais cedo pah. É meio da semana, 'tou bué da cansado. Ando sempre a chegar a casa às onze e tal. Tenho outro part-time de manhã, sabias?" (ok, já te calavas, não?) "E ainda tenho que andar a fazer tempo entre um e outro. Hoje tive uma entrevista de trabalho, uma merda de tanto tempo que demorou!" (merda é o que tu não páras de dizer, amiguinho).
E são pessoas como estas que andam a tirar o lugar a quem realmente quer trabalhar. Claro que não podemos generalizar. Eu sei. Mas ouvir isto roça o insuportável. São estas posturas que me matam. Estamos a falar de um part-time de duas semanas. Não estamos a falar de um emprego com 1300 anos de background e motivos de queixa do colaborador. Estamos a falar de alguém que, precisando de dinheiro, aceitou a oferta de uma empresa de trabalho temporário (que é como quem diz, trabalho que não dura para a vida; situação passageira, bem delimitada no tempo e que serve os propósitos de quem precisa e de quem se lança, literalmente, a qualquer água com tubarões para, ainda assim, salvar o coiro) que informa por 1. telefone e 2. email, dias antes de iniciar o trabalho, quais as funções a desempenhar, o valor/hora de remuneração e uma estimativa do rendimento total a aferir no final da missão.
E não é que ele, mal entrou, foi mesmo pedir para amanhã sair uma hora mais cedo, alegando cansaço de meio da semana?!?
"Ah, e eu sou licenciado", diz ele muitas vezes quando se queixa ao colega do lado.
Pois é querido, também eu. E tenho que te aturar mais três dias.