Na Rua Anchieta, existe um sítio maravilhoso para quem tenta calcular esta difícil equação num dia de semana:
Chiado + almoço saudável + preço acessível + local calmo, tranquilo, zen (repito, local calmo, tranquilo, zen; sim, no Chiado)
A resposta chama-se Instituto Macrobiótico de Portugal (IMP). Num tímido 1º andar entre a Vida Portuguesa e o abarrotadíssimo Kaffehaus, existe esta pérola, esta agulha no palheiro que o traçado pombalino consegue ser. Além das conferências, cursos, aulas, consultas em áreas como o Chi-kung, Yoga, Pilates, Feng-Shui, Shiatsu e outras 1.500 coisas com as quais não estou nada familiarizada, este IMP permite almoçar fantástica comida macrobiótica por nove euros.
Tal como na escola, compra-se uma senha, na recepção/loja, que dá direito a sopa, prato, sobremesa e chá. Claro que há buffets, como o Jardim dos Sentidos, por exemplo, que permitem almoçar pelo mesmo preço, repetir a dose e comer até cair. Mas, muitas vezes, come-se efectivamente mais do que a conta. Afinal, está ali à mão toda uma mesa cheia de iguarias e "epá, se é vegetariano, é saudável" (yeah, right...beringelas com queijo gratinado, lasanha de legumes com béchamel, "bolinhas que se chamam sei lá como" fritas, uns snacks género Doritos, and so on).
Aqui o prato já vem "montado", é verdade (pode fazer alguma espécie esta ausência de menu e "toma lá a tua ração que daqui não levas mais nada"), mas com o suficiente para se comer bem e sair plenamente satisfeito, sem aquela sensação de "ai que preciso de uns sais ou de uma Água das Pedras". E, o melhor, é que podemos almoçar em paz num ambiente familiar (somos nós que vamos buscar a comida à cozinha), povoado de pessoas simpáticas e amáveis (e parecem-no ser de forma tão genuína que até faz impressão).
Ingénua como sou, pensei que frequentar aquele local até conseguia atribuir generosidade aos demais, assim como que por osmose. O tipo giro e solitário, da mesa do fundo, trouxe-me a sobremesa e eu agradeci de forma deveras entusiasta aquele gesto inesperado ("oh, tão amoroso...ofereceu-se para trazer o que me faltava depois de levar o seu prato à cozinha...). Horas depois, folheava a brochura do IMP, com o programa Primavera-Verão, e lá estava ele, o bonitão que me trouxe um folhado muito suave de maçã e canela: consultor de Feng-Shui no Instituto. Colaborador da casa, portanto. Mas é a crise: há que ser polivalente. Compreensível.
Recomendo vivamente a apreciadores de comida macrobiótica e, sobretudo, aos amantes da tranquilidade na pausa do almoço (e do Feng-Shui, que me pareceu ser uma disciplina com um potencial de mais de 1,80m a explorar).
A repetir.