Lá ia eu no metro. Uma viagem normal. Um dia normal. Uma rapariga dos seus 18, 19 anos, viajava sentadita, meio escondida atrás de uma franja de meter respeito e de uns grandes óculos com armação de massa castanha. Parecidos aos da minha amiga J. Por isso, a miúda prendeu-me o olhar. Isso e a dúvida resistente na minha mente: "como consegue alguém viver com aquela farfalhuda trunfa por cima da testa, dos olhos e dos óculos?". Uma pessoa tem que arranjar estes pensamentos para a viagem ser mai curta, não é verdade? Eis que a pequena, com sua grande juba, sai na mesma paragem que eu. E com a saída, a impossibilidade de não reparar no pé da donzela, calçada de Havaianas. Qual semáforo verde, o peito do pé ostentava um enorme trevo de quatro folhas e um nome: "Miguel". Pois bem, a não ser que a "franjas" tenha tido uma criança, sexo masculino, de nome Miguel - e mesmo assim, isso não muda muito a minha opinião sobre nomes tatuados e, para quem não percebeu ainda, é algo que me faz muita confusão - aquela rapariga foi-me tatuar a sorte grande de encontrar esse miúdo, o Miguel, e escarrapachou-a ali mesmo, em grande escala, no pé! Filhinha, é bom que esse Miguel seja mesmo o seis do teu totoloto, as duas estrelas do teu euromilhões, a agulha (que carregou muito no verde, diga-se) do teu palheiro. Caso contrário, desejo-te boa sorte para disfarçar essa obra de arte. Porque, querida, lamento dizer-te mas nos pés, que saiba, ainda não crescem franjas.
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