Natal só é Natal depois de rever O Amor Acontece. Tenho dito. O que é que este filme tem de tão especial? Além de um Rodrigo Santoro semi desnudo - que, por si só, já é justificação para repetir a dose todos os anos - o filme cruza várias histórias com as quais é impossível não nos identificarmos. E se há coisa que se quer em época natalícia, é identificação, amor, rabanadas e tronco de Santoro.
Em Dezembro de 2003, estava a viver uma fase menos boa. O meu irmão atravessava um problema de saúde, a minha mãe tinha arranjado um namorado execrável, a licenciatura que iniciara há poucos meses parecia-me uma péssima escolha. No dia de Natal, o ambiente lá em casa estava de cortar à faca. O senhor namorado da minha mãe passara lá a noite, juntamente com a sua chico espertice e arrogância, de maneira que eu estava prestes a hiperventilar. E ninguém quer hiperventilar enquanto devora Ferrero Rochers como se não houvesse amanhã.
Apesar dos seus problemas, e em jeito de pacificador, o meu irmão agarrou em mim e levou-me ao cinema. Nessa noite, passava O Amor Acontece. Durante aquela sessão, esqueci a sua doença, a faculdade e o idiota que estava lá em casa. Ao longo de duas horas, apenas vivi a angústia infantil do primeiro amor, os não ditos do melhor amigo do noivo, secretamente apaixonado pela esposa deste, a comunicação trapalhona entre o inglês e a portuguesa, a auto sabotagem da irmã que não se permite viver a paixão que nutre pelo colega desde 1780. Não esquecer a crise de meia idade do patrão desta e o public affair do Primeiro Ministro. São várias as histórias contadas ao som de Christmas is All Around You, uma adaptação manhosa de um êxito dos anos 90, encerradas com uma das melhores cenas de aeroporto de sempre.
É confuso, eu sei. Assim é o amor. E ele acontece em mim sempre que vejo Rodrigo Santoro em roupa interior Hugo Boss. Era só isto, obrigada
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