Recentemente, em conversas com amigos e leituras online, percebi que estou muito desactualizada no que toca às tendências do amor e do desamor na rede.
Apenas ouvi falar do Tinder, e apps semelhantes, há um par de dias. Diz que agora também há serviços de subscrição paga com vista ao adultério, o Second Love. Ontem, li que criaram algo chamado The Breakup Shop, um conceito que permite terminar relações delegando a tarefa a terceiros. Hoje, vi uma notícia de que o Facebook irá disponibilizar, brevemente, uma série de ferramentas a quem altera o status para Solteiro. Esses recursos vão possibilitar remover, rápida e facilmente, os vestígios de fotos, posts e tags relacionados à/ao ex.
Sem entrar em críticas ou apologias destas aplicações e serviços, a verdade é que são sinais dos tempos. “Plataformas” para o engate e para o engano sempre as houve. Os nomes e o suporte eram outros, contudo, as intenções, boas ou más, já lá estavam. Bailes e Cabarets da Coxa viraram Bares e Discotecas. Mensagens de fumo e gravuras rupestres são, hoje, Facebook e Instagram.
Lembro-me bem da primeira vez que navegámos na Web a partir de casa. Eu e o meu acne. Cabo telefónico ligado ao computador, o som indescritível da ligação à Internet (que haveria de ouvir até à exaustão, tal era a dificuldade em ter sucesso), o tic tic dos impulsos. Ah, bons momentos que a Internet proporcionava: o drama da interrupção da linha telefónica e a emoção da chegada da fatura da Portugal Telecom.
Mais tarde, já com a TV Cabo, iniciei-me no universo do mIRC. Havia canais para tudo: para praticar o inglês com pessoal de todo o mundo, para falar das bandas favoritas, para cortar na casaca dos profs, para engatar. Não havia cá triagens, baseadas em foto de perfil ou nos amigos em comum. Quem usava o mIRC era um rebelde a viver no limite. Apenas um nick “identificava” quem teclava. O discurso começava sempre com “Oi”, seguido de “m/f?” e “ddtc?”. Volta e meia, no decorrer de uma conversa inocente, um ficheiro .jpeg era recebido sem pré-aviso ou contextualização. Momentos de horror. Sim, foram várias as pilinhas que vi e, prontamente, enviei para a reciclagem.
Falando em conversa, com os preços proibitivos praticados nos tarifários móveis, a malta tinha de inventar estratégias. Então davam-se toques. Apenas e tão somente isso. Toques. Ainda me lembro de me encher de coragem para dar um toque ao rapaz de quem gostava. Recordo-me também de ficar horas à espera da resposta. Que nunca chegou. “Não deve ter saldo”, pensava eu. Totó.
A introdução das SMS foi o auge do móvel, a puta da loucura. O limite de caracteres era pequeno, o custo elevado mas a experiência era absolutamente impagável.
E, claro, tínhamos o saudoso telefone fixo sem identificador de chamadas. Telefonemas fantasma e brincadeiras com as listas das Páginas Amarelas eram passatempos deliciosos. Quem nunca ligou para um número aleatório, a pedir para falar com a Senhora Vaca ou com o Senhor Porco é, claramente, um ovo podre.
E, pronto, agora chega de nostalgias que tenho uma vida. Preciso de actualizar o Facebook.
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