Já perdi a conta ao número de entrevistas de emprego a que fui. Ando nisto, mais coisa menos coisa, desde o ano de 1700 AC. Os processos de recrutamento são case studies que, um dia, espero reunir numa obra ao melhor estilo dos livros de auto-ajuda, segredos e qualquer coisa for the dummies.
Começando pelos recursos humanos, tenho para mim que padecem de um mal comum: incumprimento da palavra. Epá, não gosto disso. “Em seguida, vou enviar um email a formalizar a data da entrevista, o local e o diabo a sete”. “Darei feedback sobre o andamento do processo até ao final da semana, até lá aguenta e não chora”. E depois, nem água vai nem água vem. Lá começam os emails e os telefonemas de stalking.
Quem nunca foi alvo de um erro de casting, que levante o dedo. Estava eu de canudo na mão, à procura de um estágio curricular como Copywriter, ou algo do género, e sou convidada a ter uma entrevista para o cargo de Direcção de Arte. Sénior.
Anos mais tarde, um anúncio publicado no blog Carga de Trabalhos (para quem não sabe, montra de empregos na área da comunicação), leva-me a uma mega casa em Oeiras, propriedade de uma figura conhecida da nossa praça. À entrada, a recepcionista pede-me dados pessoais (normal) e a hora e local do meu nascimento (certo), sacando muito prontamente um print da xerox. O meu mapa astral, pois claro. Super relevante para a função, não estivesse a senhora VIP à procura de alguém, e cito, “que saiba fazer de tudo um pouco, desde uma limpeza nos servidores até uma limpeza espiritual”. Adiante.
Os tempos de espera entre a primeira entrevista (de triagem), segunda (de grupo, com as clássicas dinâmicas Perdidos na Ilha/Lua/Marte, riscar o que não interessa) e terceira (individual), podem ser desesperantes, causando um desgaste absurdo.
No momento das entrevistas, tento sempre ser fiel a mim própria. Tenho noção que naqueles breves minutos, temos que vender a nossa pessoa, provar por A mais B que somos o candidato ideal para aquela vaga. Como é óbvio, há uma teatralização e uma mentira inerentes. Ponto. “Saí do meu último emprego porque os meus chefes eram uns incompetentes, uns pequenos parasitas”. “Estou aqui super empolgada para ganhar estes 500 euros, upa upa, nem sei que faça com tanto dinheiro”. Naturalmente que há filtros que têm de ser utilizados e que o Síndrome de Tourette deverá ficar quietinho. Contudo, tento ser o mais fiel possível a tudo aquilo que faz de mim Andreia e não Maria.
Quando a Andreia é rejeitada, é lixado, pois claro. Se concorri à vaga é porque preciso de trabalho, de melhores condições salariais, de uma mudança. Há expectativas e, em momentos de maior fragilidade, a rejeição pode levantar inúmeras questões. Será que falei de mais, de menos? Será que não mostrei entusiasmo, que passei insegurança? Será que deveria ter vestido outra coisa, que o cabelo estava desalinhado, que o fond de teint não estava bem espalhado?
Porém, acredito piamente que todas as rejeições me empurram para algo melhor. Até hoje, esta máxima não me desilude.
Quando a Andreia é escolhida, é uma sensação fantástica. E, hoje, estamos assim.
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