27.7.16

Love, APPtually.

Já tinha referido, aqui no blog, que me tinha inscrito no Tinder. Saí, reingressei e voltei a abandonar a coisa. Entretanto, há meia dúzia de dias, aderi ao Happn.

 

Alguns amigos são entusiastas destas applicações. Há quem utilize todas as apps em simultâneo, há quem troque screenshots das pérolas encontradas, temos os demais que fazem like em todos os perfis para contabilizar matches, ainda há outros que se desafiam entre si para sacar um jantar ou uma sobre-a-mesa e gritar "primeiros!!!!".

 

Tenho amigos a quem as apps não aquecem nem arrefecem. Esses questionam-me porque ando a experimentá-las. Tenho 31 anos, a caminho dos 32. Sou solteira e um bicho social. Passo nove horas no local de trabalho, onde tenho um óptimo ambiente de camaradagem, algumas amizades, até, sortuda que sou. Não faço questão de elevar as relações que mantenho com os meus colegas, embora não critique quem o faça. Shit happens. Já não ando na escola, onde havia sempre margem para aquela crush fortíssima da hora do recreio. Os amigos estão quase todos casados e garantidos na continuidade da espécie. Os amigos dos amigos, por norma, também preenchem estes requisitos. As apps são apenas mais uma oportunidade para conhecer gente. Gente parva, como na vida real, gente com potencial, gente chatinha. Gente. São mais um canal para ter desilusões e surpresas. Como na vida real.

 

"Mas que jeito tem andar a ver as fotos do gado, como se de um catálogo se tratasse?". Meus amigos, lembram-se quando eram solteiros e seguiam para as ladies nights do Plateau? Recordam-se quando abordavam uma moça que jazia caída, triste e abandonada, no bar aberto? O que sabiam dela? Conheciam o seu livro de cabeceira, a média da universidade, as alergias alimentares, o historial psiquiátrico? Pois, bem me parecia.

 

Ainda há os outros, colegas e conhecidos, que criticam ferozmente as apps ou que, por outro lado, se abstêm de qualquer comentário. Depois, é ver as suas fotos de sunga e boquinha de pato.

 

Apesar de defender que estas apps valem o que valem - ferramentas válidas para conhecer pessoas - também acredito que há quem as utilize com alguma leviandade e frieza. Sei que uma conversa é isso mesmo, uma conversa. Sei que quem lá anda pode ter um perfil muito bem fabricado e, até mesmo, ficcional. Sei que há de haver tarados, casados, mal amados e frustrados. Sei que nem todos terão as mesmas intenções, motivações e vontades. Contudo, quem lá anda deveria assumir mais a coisa e responsabilizar-se pela expectativa que, forçosamente, cria no outro. Num mundo ideal, dizem-me. Mas o blog é meu e posso dizer o que penso. Não é pedir muito que as pessoas abram o jogo. Quer sexo, diga logo. Quer fazer amizade e, quicá, arranjar namorico, diga logo. Quer conversas random enquanto está na loja do cidadão, diga logo. Quer massajar o ego e provar que, se a relação der para o torto, tem backup rápido, diga logo.

 

Estas apps são muito giras mas envolvem as intenções de uma grande frieza, vulgo, "estou-me a cagar para as tuas expectativas, minha menina". Senão, vejamos. Temos as criaturas com quem há match e permanecem em silêncio, ad eternum. Temos aqueles que metem conversa sensaborona, pouco inteligente, numa preguicite e desinvestimento medonhos. Temos aqueles que iniciam um diálogo, somam check marks a cada duas linhas (quase que se ouve o som da apanha dos cogumelos do Super Mário), e, depois, do nada, desaparecem.

 

Estes últimos são os mais perigosos pois, às páginas tantas, fazem questionar se dissemos algo menos próprio ou, quiçá, se passámos uma imagem de stalker. Teremos transmitido desinteresse e indisponibilidade? A pessoa pergunta-se se terá sido bug da app, se o homem terá sido assaltado, ficado sem smartphone, se terá falecido. A pessoa é obrigada a procurar o ser humano no Instagram, no Facebook, Twitter e Páginas Amarelas. É obrigada a enviar pedidos de amizade, mensagens, forçada a contratar um detective e, talvez, um sniper na deep web. Caramba, não há tempo para isto.

publicado por ARA às 20:20
link do post | comentar | favorito
11 comentários:
De marina malheiro a 29de Julho de 2016
Muito bom! Adorei. Concordo em absoluto!
De Helena Duque a 29de Julho de 2016
Não podia concordar mais :)
De ARA a 1de Agosto de 2016
Obrigada, Helena :)
De ARA a 1de Agosto de 2016
Muito obrigada, Marina :)
De João Freitas Farinha a 29de Julho de 2016
É mesmo isso... "Swipe para a direita neste artigo" :)
De ARA a 1de Agosto de 2016
Super like no comentário :)
De Joana Marques a 29de Julho de 2016
Identifiquei-me tanto com o que escreveste!
Começando pela tua descrição, parecia que estavas a falar de mim...só que eu tenho 35!
De ARA a 1de Agosto de 2016
Joana, parece que somos muita(o)s a ter esta identificação. Vamos criar a nossa App? :D
De Joana Marques a 1de Agosto de 2016
Boa ideia!
;)
De CC a 29de Julho de 2016
A sério, dos melhores que já escreveste!
10 points my friend! Deliciaste-me com a sobre-a-mesa :P
De ARA a 1de Agosto de 2016
Meu amor, que bom ler este teu comentário :) Fico tão feliz com o teu feedback. Mário Alberto, 'cê sabe o que eu quero?

Comentar post

Seguir no SAPO


ver perfil
seguir perfil

Pesquisar

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Comentários recentes

grande animação! ;)
Se foi essa tragédia toda por causa de uma venda n...
Hmm, eu pensei que não valia a pena por Billy ou B...
Nunca imaginei que um simples anúncio poderia prov...
Obrigada, mami! Graças a elas, há material para po...

Posts recentes

Deixe o amor entrar*

Do Barril

Das leis do Universo

A Guerra dos Tronos

A menina escreve?

Arquivo

Novembro 2016

Setembro 2016

Agosto 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Março 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Novembro 2015

Outubro 2015

Janeiro 2013

Setembro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Mais comentados

subscrever feeds