Há uns dias, li um artigo engraçado sobre os dramas de quem usa óculos. À falta de inspiração, resolvi abordar o assunto, partilhando a minha visão, ou falta dela, sobre a temática.
O meu pai é míope, assim como o meu irmão. Até aos 14 anos, eu gabava-me de não ter de usar óculos. A minha rica mãe sempre lembrava que bom que era eu não ter herdado os genes da pobre visão. Mal ela sabia que estive quase um ano em negação.
Foi numa aula de Português que me apercebi que o tamanho da letra da professora tinha encolhido. Nos dias seguintes, reparei que precisava de semicerrar os olhos de modo a conseguir ler legendas.
O pânico de usar óculos na escola tomou conta de mim e lá fui deixando a coisa arrastar. Apanhada pela minha mãe, num momento de entretenimento televisivo em lusco-fusco, não tive outro remédio senão ir ao oftalmologista.
Comecei logo com uma dioptria de 2.50, em cada olho, que aumentou para 4.50, valor que se tem mantido estável nos últimos anos. Trocando por miúdos, sem óculos não vejo um boi à frente.
Hoje, gosto de usar óculos e assumo a coisa com armações pouco discretas. Contudo, usar óculos tem os seus desencantos. Ora vejamos:
1. As lentes estão sempre cagadas e apenas temos noção do grau de sujidade quando passamos o paninho e, de repente, o dia deixou de estar nebulado;
2. Em dias frios, a pessoa entra no autocarro e fica com a lente embaciada. Não é bonito;
3. Na praia, é ridículo ir ao mar com óculos, contudo, é perigoso arriscar um encontro imediato de primeiro grau com uma medusa ou com outro banhista;
4. Entrar na banheira com os óculos e apenas notá-lo quando há duas cascatas a dar os bons dias;
5. Quem, como eu, usa headsets para desempenho da sua função laboral, sabe o quão dolorosas podem ser as hastes;
6. Óculos 3D no cinema, ou, "porque raios me meti neste filme?";
7. O tique irritante de levar a mão aos óculos de 2 em 2 segundos. Pior, ter esse tique quando os óculos não estão lá;
8. Maquilhar o rosto é algo para fazer lembrar os pega monstros, coladinhos ao vidro;
9. Idas ao cabeleireiro podem ser desastrosas. O resultado da tosquia só é verdadeiramente visualizado na fase irreversível do processo;
10. A compra dos óculos: a complexidade de escolher, acertadamente, algo que será utilizado todos os dias.
Desafios à parte, hoje sou fã de óculos e de portadores de óculos. Há um charme, um certo je ne sais quois, nos indivíduos que usam lunetas, não acham?
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.